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sobre livros e coisas da vida

sobre livros e coisas da vida

O mundo é dos que contemplam...


Meu amor,

Vou ser sincera... Não dava nem metade da atenção que deveria aos pequenos pormenores que me rodeavam. Não o fazia propositadamente, apesar das minhas distracções constantes e a minha mente sempre muito aluada. O ritmo frenético de um dia que começou cedo. O ritmo acelerado de um dia que nunca mais chegava ao fim. Até que disse - Chega! E foi a melhor decisão da minha vida.

Ainda me lembro desse dia. Saí tarde do escritório, já sem vontade de chegar a casa e ter de cozinhar para uma só pessoa e comer sozinha recostada no sofá. O dia estava a ser péssimo; não havia como negar. Ainda me lembro que nesse dia não apanhei o comboio de todos os dias e decidi simplesmente andar pelas ruas da cidade.

Sem rumo. Era um resumo bem definido do que era naquela altura. Até podia ter muito do que qualquer pessoa normal desejaria - um bom emprego, uma casa acolhedora, independência - mas sabia que me faltavas tu, mesmo antes de o saber. E sem saber bem como, dei por mim sentada num banco alto de um dos bares da cidade.

Mantinha os braços apoiados no balcão e um copo de moscatel mesmo à minha frente. Encostei o copo nos lábios e senti o sabor doce e quente passar-me na boca. Foi nesse mesmo instante que te ouvi. Não a tua voz. As tuas mãos. O ritmo suave de uma melodia que sempre esperei ouvir. O ritmo intenso que me deixou ébria.

Tentei perceber de onde vinha o som. Rodava lentamente o corpo sobre o banco redondo quando os meus olhos se encontraram com a tua silhueta. A luz ia ao teu encontro, estavas no único sítio bem iluminado do bar. Conseguia ver todos os teus contornos. Conseguia sentir o movimento ritmado dos teus dedos enquanto passavam pelas teclas do piano. Tu e ele pareciam um só, envolvidos numa só harmonia. Distraí-me a pensar no quanto gostaria de ser aquele instrumento e ri-me quando pensei nisso. Quando voltei à realidade, cruzei-me com o teu olhar e sorrias de volta. Derreti tão depressa como o cubo de gelo que já desaparecera no copo que esqueci em cima do balcão.

Olhei-te toda a noite. Contemplei cada pormenor teu. Como nunca antes o fizera. Contemplei-te até ao fim dos teus dias, meu amor. Foi contigo que entendi que o mundo é dos que contemplam o amor. Tu és o meu. E eu hei-de sempre querer olhar-te uma vez mais, mesmo que agora tenha de fechar os olhos e imaginar-te aqui.

Sempre tua

O dia mais feliz da minha vida

É o dia mais feliz da minha vida - não pensava noutra coisa. Foi essa a frase que se repetiu vezes sem conta na minha mente. Estava parada em frente ao grande espelho do quarto. O barulho parecia aumentar, assim como os batimentos do meu coração.


No jardim, já várias pessoas se concentravam. Os risos estridentes das crianças atravessavam a janela fechada por onde espreitava quando desviei um pouco o olhar. Conseguia ver as cadeiras alinhadas, fazendo um simples corredor que me levaria até ao altar revestido de pequenas gardénias brancas e cor-de-rosa. Onde tu estarias à minha espera...

Voltei a direccionar o olhar para me ver uma vez mais. Vestia-me de branco e pensava nas pessoas que queria ter ao meu lado nesse dia. Pensei no quanto as amava e uma lágrima caiu sobre o meu rosto. Contudo, aquele ainda era o dia mais feliz da minha vida.

Muita coisa estava prestes a mudar. E que mudança boa! A promessa de uma vida a teu lado, meu amor. E eu sei que sempre disseste que não me irias prometer nada que não pudesses cumprir, mas sabes? Este foi o dia a partir do qual cumpriste tudo, mesmo sem o prometeres.




Deixa-me fazer deste amor algo nosso

Para ler ao som de Mario - Let Me Love You

Dez e meia. Outra noite em que assisto ao teu desespero. Ele ainda não chegou, mas eu estou aqui. Observo-te através da janela do meu quarto e, eu sei que pode parecer estranho, mas adoro ver-te. Observar cada passo teu, enquanto percorres a casa. Mas hoje, estás particularmente triste. Foi assim que ficaste quando agarraste a camisa dele, que estava no chão, junto à cama que partilham. O que será que viste? Teria a camisa o perfume e a maquilhagem de outra mulher? Tenho a certeza que sim.

Meu pequeno anjo, porque continuas ao lado de alguém que não te merece? Ao lado de quem não te faz feliz e só te faz sofrer?

Se me amasses da forma que eu te amo... Se me permitisses na tua vida... Se eu fosse o teu homem, nunca te deixaria sozinha. E mesmo que não estivesse ao teu lado, tu saberias que estaria a pensar em ti. Nunca duvidarias disso! E seriam dez e meia e eu já teria chegado a casa há muitas horas atrás, desejando loucamente abraçar-te e fazer-te feliz.

Deixa-me ser aquele que te aquece nas noites frias. Aquele que te mostra que o amor é muito mais do que aquilo que conheces com ele. Deixa-me ser o único que te dá tudo aquilo que queres e precisas. Mereces tanto e tudo. Mais do que acreditas.

Só queria estar contigo, aí e agora. Confortar-te. Amar-te. Como nunca ninguém o fez. Deixa-me fazer deste amor algo nosso.

Gentileza é como pretinho básico...

... Não tem como errar!


"Nunca julgues um livro pela capa". Mas quem nunca? Quantas vezes entristeceste alguém porque tocaste na sua maior ferida sem saber? Quantas vezes irritaste uma pessoa mesmo que ela não o tenha demonstrado?

Faz falta ser gentil. Falar sem julgar. Brincar sem magoar.

Ninguém olha nos olhos de alguém e conhece verdadeiramente uma pessoa. Hoje em dia já ninguém olha nos olhos de alguém verdadeiramente, mas isso é outra conversa.
Nunca se sabe qual é a mala que o outro carrega. Por muito que se ache que conhecemos o próximo, não devemos tomar como certa essa observação.

Faz falta estender a mão a quem precisa.

Mas não dês a tua mão esperando algo em troca, achando que estás a praticar o bem. A isso não se chama gentileza, mas sim puro interesse.

Faz falta sorrir mais.

Sorrisos de bom dia. Sorrisos de boa noite. Sorrisos no comboio. Verás que a tua vida fica mais preenchida, assim como a vida das pessoas que são brindadas com um gesto tão simples e verdadeiro. Certeza de quem já passou uma vida inteira a sorrir só porque sim. Mesmo nos dias mais difíceis. 

E já pensaste no quão bonito é fazeres o dia de alguém melhor?

ESTE TEXTO FAZ PARTE DO DESAFIO CRIATIVO DO PROJECTO ESCRITA CRIATIVA

Tudo aquilo que eu sinto, mas não digo

Estou sentada na esplanada do café da beira da estrada. Palavras e sons voam de uma ponta para a outra da mesa. O fumo dos cigarros entranha-se na minha roupa, mas eu não quero saber.


Talvez seja esse mesmo o problema. Já não querer saber de nada. Estou fisicamente junto a eles, mas psicologicamente ausente. Mas é muito simples explicar a razão de todo este afastamento. Eu mudei. Trabalho, responsabilidades e demasiado cansaço para conseguir suportar certas atitudes.E vocês também mudaram. Não há um dia em que não exista algum tipo de confronto desnecessário entre vocês. Agora, eu pergunto: para quê estar a cansar-me ainda mais?Continuo sentada na esplanada, mas não estou aqui, definitivamente. Já não me identifico com esta rotina. Já não sinto a mesma alegria por estar aqui.Tenho pena. É isso que sinto. E saudades de tudo o que éramos. Sentada na esplanada, junto a todos aqueles que já não conheço, sinto. Sinto e permaneço em silêncio.

****

Projecto: Escrita Criativa
Tema: Tudo aquilo que eu sinto, mas não digo

Momento


Foi química. Foi o que lhe quiserem chamar. Foi simplesmente o que aconteceu em nós.
De estranhos, passámos a ver-nos todos os dias. E todos os dias dávamos um pouco mais de nós a cada um. E todos os dias sentíamos um pouco mais. Mais necessidade. Mais urgência. Mais vontade.
De estranhos, passámos ao primeiro toque. E do primeiro toque, passámos ao primeiro beijo.
Eu não sei quanto a ele, mas eu senti certeza. Certeza de que ainda existem pessoas capazes de nos fazer verdadeiramente felizes, só pelo simples facto de serem elas próprias. Apenas pelo sorriso ou as palavras certas.
Talvez seja este o momento certo também. O momento em que entendo o porquê de tudo ter dado errado até hoje. E nada me faz mais feliz, neste momento. Nem ninguém. Porque hoje, és só tu.